sábado, 26 de julho de 2008

Dica teatral - Peça A Alma Boa de Setsuan de Bertolt Brecht


Nada é por acaso! Navegando na internet uma notícia sobre a estréia da peça A Alma Boa de Setsuan, do dramaturgo alemão Bertolt Brecht com Denise Fraga e dirigida (“orquestrada”) por Marco Antonio Braz, me chamou a atenção.

A questão levantada na peça é "Como ser bom e ao mesmo tempo sobreviver no mundo competitivo em que vivemos?" E isso tem tudo haver com Temperamentos e Atitudes Anímicas que acabamos de ver, não?!

Brecht escreveu esta parábola em 1941, época em que vivia no exílio da Alemanha nazista. Afirmava que a bondade era o estado natural do homem, e que a crueldade exigia um grande esforço. Entretanto, o preço para se praticar o bem em um mundo como o nosso seria alto demais. Passados 67 anos, o texto continua mais que atual, mostrando a realidade muito mais cruel para os bons, num mundo onde a generosidade ficou perigosa.

Denise Fraga insistiu em montar essa grande produção, com onze atores no elenco, por acreditar que a questão colocada por Brecht, a absoluta contradição humana diante do caos ético em que vivemos num mundo onde a voz mais forte é sempre a do capital, precisa ser discutida.

A parábola é ambientada na China. Três Deuses, nessa adaptação transformados na Santíssima Trindade e vividos por um único ator, descem a Terra à procura de pelo menos uma alma boa. Depois de muito caminho percorrido em vão, chegam a uma província chamada Setsuan. Lá encontram a prostituta Chen-Tê que lhes dá guarita por uma noite. Na manhã seguinte, concluem ser ela a alma boa que tanto procuravam e resolvem lhe pagar pela hospedagem. O dinheiro é suficiente para Chen-Tê abrir uma tabacaria e mudar de vida. Dona de seu próprio negócio, Chen-Tê começa a ver os miseráveis da cidade abusarem de sua imensa generosidade. Sem conseguir dizer não, resolve vestir a máscara do mal. Traveste-se de uma figura masculina, seu primo Chuí-Tá que teria vindo de longe para temporariamente tomar conta de seu negócio. O agir de Chuí-Tá em tudo difere do de Chen-Tê. O que Chen-Tê não consegue recusar por fraqueza, Chuí-Tá retoma com força.
Chen-Tê engravida, mas é a barriga de Chui Ta que cresce de prosperidade, aos olhos do povo. Como ninguém deve saber que Chen Tê está grávida, É a prima agora que se esconde por trás do primo. Somente Chui Ta aparece e comanda. Um boato cresce em Setsuan em torno do desaparecimento de Chen Tê: Chui Ta teria seqüestrado a própria prima para ficar com suas riquezas. .A última cena da parábola é o julgamento de Chui Ta.


Estréia dia 26 de Julho, sábado, às 21h.
Temporada até 28 de setembro

Teatro Renaissance (462 lugares)
Alameda Santos, 2233 - Cerqueira César - São Paulo


Fonte: Michel Fernandes, Último Segundo (
michelfernandes@superig.com.br)

domingo, 6 de julho de 2008

Video sobre sustentabilidade

Turma 71,

achei que faz pensar: http://www.storyofstuff.com

Espero que gostem.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

DEGUSTAÇÃO DE VINHOS (Cortesia do Ça-Va)

DEGUSTAÇÃO DE VINHOS

Na próxima quinta-feira, dia 26/06, às 20:00, haverá mais uma das degustações do ÇA-VA Café Restaurant. Eles pedem um telefonema para fazer a reserva, porque o Ça-Va é pequeno e os lugares são limitados.

Serão os vinhos da VITIS VINÍFERA (RJ), através do sommelier Marcelo Miguel.

Um "passeio" pela França (Bordeaux) e Suíça (Valais).

Degustaremos quatro vinhos:
-- Château Lesparre, tinto, Merlot (Michel Gonet), França
-- Terreo Reserve, tinto, Malbec (Vineovale), França
-- Fendant du Valais, branco, Fendant - Chasselas (Provins Valais), Suíça
-- Dôle du Valais, tinto, Pinot Noir e Gamay (Provins Valais), Suíça

Como é usual, esta degustação é cortesia do Ça-Va.
Após a degustação servirão o jantar, normalmente.

Quem tiver interesse e puder comparecer, deve reservar diretamente com o Ça Va - assim fica fácil para todos... Legal a gente avisar, via blog, quem quer ou já fez a reserva. O que acham?

Estou dentro da idéia de esticar e ficar para jantar.

Abraços, eles aguardam as reservas.

ÇA-VA Café Restaurant - www.cavacafe.com.br
Rua Carlos Comenale 277 (travessa da Peixoto Gomide, atrás do MASP)
Tels.: 3285 4548 / 3262 5047
segunda à sexta, almoço - 12:00 às 15:30
quinta a sábado, jantar - 19:00 às 24:00 - Acordeonista toca músicas francesas

sábado, 14 de junho de 2008

O poder do Teatro Espontâneo

Teatro Espontâneo

Moreno criou o “Teatro do Improviso” ou “Teatro Espontâneo”, gênero no qual os participantes amadores improvisavam acontecimentos do dia-a-dia. Com o Teatro Espontâneo Moreno percebeu que, através da representação, os indivíduos tomavam consciência de seus conflitos psicológicos, reconhecendo-os e ampliando novas possibilidades para lidar com suas dificuldades e situações conflituosas. Nasce assim o Teatro Terapêutico, o Psicodrama, a Psicoterapia de Grupo e o Sociodrama.
Um dos objetivos do Psicodrama, do Sociodrama e da Psicoterapia de Grupo é descobrir, aprimorar e utilizar os meios que facilitem o predomínio de relações télicas sobre relações transferências, no sentido moreniano. À medida que as distorções diminuem e que a comunicação flui, criam-se condições para a recuperação da criatividade e da espontaneidade. Moreno pretendia que a ação dramática terapêutica levasse a algo mais do que a mera repetição de papéis tais como são desempenhados no quotidiano. A ação dramática permite percepções profundas por parte do Protagonista e do grupo, a respeito do significado dos papéis assumidos.

Jacob Levy Moreno é o criador do Psicodrama. Nasceu em 1889, na Romênia (cidade de Bucarest). Viveu uma experiência interessante, que foi a brincar de ser Deus. Segundo ele, foi aí que surgiu a idéia de espontaneidade. Acreditava que no teatro existiam “possibilidades ilimitadas para a investigação da espontaneidade no plano experimental”. Com a criação do “ jornal vivo ”, estavam sendo lançadas as raízes do Sociodrama. Em 1931, introduziu o termo Psicoterapia de Grupo, onde teve sua origem científica. O Psicodrama foi introduzido no Brasil em 1930.
Segundo Moreno, o indivíduo deve ser concebido e estudado através de suas relações interpessoais. Ao nascer, a criança é inserida num conjunto de relações, primeiramente com sua mãe (que é seu primeiro ego auxiliar), seu pai, irmãos, avós, tios, etc.; este conjunto foi denominado de Matriz de Identidade.
O homem para Moreno é um indivíduo social, pois nasce em sociedade e necessita dos outros para sobreviver, sendo apto para conviver com os demais. Assim, ele criou a Socionomia, que significa o estudo das leis que regem o comportamento social e grupal.
A Sociodinâmica estuda o funcionamento (ou dinâmica) das relações interpessoais. Tem como método de estudo o role-playing, que permite ao indivíduo atuar dramaticamente diversos papéis, desenvolvendo deste modo um papel espontâneo e criativo.
A Sociatria constitui a terapêutica das relações sociais, e utiliza como método: a Psicoterapia de Grupo, o Psicodrama e o Sociodrama; como aplicação destes, Moreno vislumbrava a possibilidade de tratamento e de cura do social mais amplo. O Psicodrama é o tratamento do indivíduo e do grupo através da ação dramática. No Psicodrama de grupo o protagonista poderá ser um indivíduo ou o próprio grupo. A Psicoterapia de grupo prioriza o tratamento das relações interpessoais inseridas na dinâmica grupal. No Sociodrama, o protagonista é sempre o grupo e as pessoas estão reunidas enquanto mantêm alguma tarefa ou objetivo em comum
A espontaneidade, a criatividade e a sensibilidade são recursos inatos do homem. Desde o início ele traz consigo fatores favoráveis a seu desenvolvimento, porém estes podem ser perturbados por ambientes ou sistemas sociais constrangedores.
Moreno não considerava o nascimento como um evento angustiante e traumático, concebendo o rebento humano como um agente participante desde esse momento. O fator E ou espontaneidade é a capacidade de responder adequadamente à situação, utilizada pela primeira vez no nascimento. O
homem nasce espontâneo e deixa de sê-lo devido a fatores adversos tanto do ambiente afetivo-emocional (Matriz de Identidade e átomo social), quanto do ambiente social em que a família se insere (rede sociométrica e social).
A Revolução Criadora moreniana propõe o rompimento com os padrões de comportamento, valores e formas estereotipadas de participação na vida social, que acarretam a automatização do homem (conservas culturais).
Para que tenhamos o prazer de nos sentirmos vivos é preciso que nos reconheçamos como agentes de nosso próprio destino. A espontaneidade é a capacidade de agir de modo “adequado” diante de situações novas, procurando transformar seus aspectos insatisfatórios.
Para promover mudanças no ambiente, pensamos e agimos em função de relações afetivas, mesmo que não o façamos conscientemente.
A possibilidade de modificar uma dada situação implica em criar, e a criatividade é indissociável da espontaneidade (esta permite que o potencial criativo se atualize e se manifeste).
Segundo Moreno, a criança aos poucos, com o desenvolvimento de um fator inato, chamado Tele, vai distinguindo objetos e pessoas, sem distorcer seus aspectos essenciais; assim Tele é a capacidade de perceber de forma objetiva o que ocorre nas situações e o que se passa entre as pessoas.
Toda ação pressupõe relação, factual ou simbólica (relação com pessoas reais ou imaginárias, que têm sua presença representada). Toda relação pressupõe formas de comunicação.
O fator Tele influi decisivamente sobre a comunicação, pois só nos comunicamos a partir do que podemos perceber. Para Moreno, Tele é também uma “percepção interna mútua entre dois indivíduos”.
A empatia é a captação, pela sensibilidade dos sentimentos e emoções de alguém ou contidas, de alguma forma, em um objeto. Assim, Moreno escreveu certa vez que “o fenômeno Tele é a empatia ocorrendo em duas direções”.
Segundo Moreno, a transferência equivalia ao embotamento ou à ausência do fator Tele, e como o Psicodrama tinha por objetivo reavivar a espontaneidade e o Tele, a recuperação destes, seriam fatores de saúde mental e criatividade, superando o apego desfavorável a situações do passado. Uma parte do teste sociométrico, o “perceptual”, verifica a capacidade de cada elemento de um grupo de captar os sentimentos e expectativas dos outros em relação a ele.
Um dos objetivos do Psicodrama, do Sociodrama e da Psicoterapia de Grupo é descobrir, aprimorar e utilizar os meios que facilitem o predomínio das relações télicas sobre relações transferências.
O encontro é a experiência essencial da relação télica , é apelo para a sensibilidade do próximo, é apelo da espontaneidade.
É no momento do encontro e no momento da criação, onde há situações em que o ser humano se realiza, afirmando o que é essencial no seu modo de ser.
Moreno salientava que é importante pensar a respeito da interação humana levando em conta, principalmente, o tempo presente; trata-se de averiguar a relação presente e as correntes afetivas, tais como estão sendo transmitidas e captadas aqui e agora.
Segundo este, os “estados co-conscientes e co-inconscientes” são aqueles que os participantes têm experimentado e produzido conjuntamente e só podem ser reproduzidos ou representados conjuntamente.
A resistência interpessoal corresponde a uma resistência a reconhecer certos aspectos próprios, que cada um atribui ao outro, e que freqüentemente se apresenta como resistência frente ao outro; vencida esta resistência, a ação psicodramática permitiria a superação de conflitos co-inconscientes.

FONTE: Saskia Vasconcelos Copyright 2006

domingo, 8 de junho de 2008

Layout do blog

Turma 71,



outro dia me falaram que páginas web que são pretas/negras ou pelo menos mais escuras que as tradicionais brancas, gastam menos energia... e nesta linha a Google lançou o http://googlediscovery.com/labs/googleblack/ achei diferente e um exercício acostumar com esta versão...



Coloquei nosso blog neste modelo, o que acharam?



Beijo,

Lara

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Entrei na rede

Lara,

Comecei a criar o meu blog. Preciso de dicas porque é a primeira vez que faço isto.

Sds.

Cássio Cavaco

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Jocasta já estava morta

Jocasta foi, na Mitologia grega, filha de Menocenes e mulher de Laio, rei de Tebas, com quem teve um filho, Édipo.

Pela previsão do oráculo, de que Édipo seria um perigo para a vida de Laio quando crescesse, o recém-nascido foi entregue a um pastor, fiel servo de Laio, por Jocasta que lhe incumbiu da difícil tarefa de matá-lo. Todavia, Édipo é salvo por outro pastor que entrega o menino a um casal.

Já adulto, Édipo, em uma de suas peregrinações ao Oráculo, descobre que será o assassino de seus pais, desse modo, foge de sua cidade e de sua sina. Entretanto, no meio do caminho se depara com uma carruagem que leva o rei de Tebas, Laio. Um de seus servos joga a carruagem de encontro a Édipo, que tomado de ira, devido à soberba dos integrantes da comitiva e do rei que desconhece, luta contra aquelas pessoas até conquistar sua “honra” coma morte daqueles homens. Somente um dos servos consegue fugir.

Ao chegar a Tebas vê que a cidade - pólis - está sendo perseguida por uma grande mal, a Esfinge com seu enigma. Édipo é o único que consegue resolver a charada, sendo assim, proclamado rei de Tebas. Ele se casa com Jocasta, sua mãe. Algum tempo se passa até que chega à cidade a notícia da morte de Laio. Édipo, toma conhecimento da notícia, tenta achar os culpados pelo assassinato, para tanto, manda seu cunhado Creon ao oráculo de Apolo. Ao regressar Creon lhe diz que, segundo o Deus, o assassino está entre eles.

Édipo passa a perseguir indiscriminadamente o autor do ato. Os cidadãos, formados pelo coro, sugerem ao rei para chamar Tirésias, um adivinho que se diz intermediário entre os homens e o Deus Apolo. Quando esse não lhe oculta a verdade, Édipo lhe insulta, chama-lhe de farsante, de falso profeta. Tirésias então, pressionado, revela seu conhecimento. Édipo seria o assassino.

Não crente, Édipo acusa Tirésias e Creon de traição. Acusa-os de planejarem usurpar o trono. Creon, ao saber de tais alegações contra sua pessoa, apresentasse ao rei para que a confusão seja sanada. Édipo não lhe dá ouvidos. Jocasta intervém por seu irmão. Diante do juramento de Creon e de sua fala argumentativa, Édipo se vê perdido.

Jocasta, sem maiores pretenções,relata-lhe alguns fatos sobre a morte de Laio que Édipo desconhecia. Diante da nova narrativa ele começa então a se questionar se não seria ele mesmo o assassino. Édipo pede que lhe chamem o servo de Laio que sobrevivera. Neste ínterim, chega a notícia, por um mensageiro, da morte do pai adotivo de Édipo. Esse mensageiro é o mesmo pastor que o salvara da morte. Ele lhe relata tudo sobre o ocorrido. Outro pastor chega então ao reino e depois de muito relutar esclarece a Édipo a verdade.

Jocasta, diante do ocorrido, enforca-se em seu quarto. Édipo ao ver tal cena se cega como meio de punição por ter consumado matrimônio com sua mãe e matado seu pai. Ao fim, Édipo pede a Creon que lhe envie para longe da cidade para que posso viver desterrado, longe de sua vergonha.

Édipo e Jocasta tiveram 4 filhos, Antígona, Ismênia, Etéocles e Polinice.

Co-autoria

Participantes da Turma 71,

enviei a todos vocês um convite para co-autoria do Blog... avisem-me via blog, em comentários, ou também via e-mail (lperei@hotmail.com ou lara.pereira@bancoreal.com.br) sobre dificuldades, alteração de e-mail para convite, etc.

Abraços,
Lara

só pra marcar

Beleza Lara
parabéns! entrei rapidamente, nos 'falamos' mais tarde.
Ao grupo. aquele abraço

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Antígona em São Paulo: um diálogo entre duas tragédias

Não pude resistir a compartilhar no Blog da Turma 71 o artigo publicado no Estadão de Domingo, 1o de junho de 2008.


Na cordialidade brasileira, todo mundo é tio. É de "tia" que as crianças chamam a mulher do pai quando esta não é a sua mãe. A menos que a chamem simplesmente pelo nome, "fulana" ou "cicrana". Por outro lado, é "a companheira", ou a "segunda mulher", ou a "nova mulher",ou ainda a "nova esposa" de fulano que dizemos para nomear a mulher com quem alguém se recasou ou se juntou.

Saído do domínio das bruxas, essas representantes da mãe má, desde a noite dos tempos, que é o tempo das histórias de fada, a palavra "madrasta" é no mínimo estranha como referência à segunda mulher do pai de Isabella Nardoni, Ana Carolina Jatobá. Primeiro, porque a madrasta é aquela que, na falta da mãe, está na função dela. Não é o caso da mulher de Alexandre Nardoni, que, por melhores que pudessem ser as relações entre a menina e a "tia", antes do surto ou do curto-circuito que talvez a tenha levado a esganá-la, só se encarregava de Isabella nos fins de semana estipulados para suas visitas ao pai. Segundo e mais importante, porque, justamente, não é assim que falamos. Como também não nos ocorre dizer a "enteada" ou o "enteado" para uma criança que vai passar o fim de semana na casa do pai recasado com outra pessoa.

Isso torna, aliás, surpreendente a maneira como, até mesmo na Rede Globo, que normalmente observa a regra da coloquialidade - os deles e os delas da Globo, como diria Caetano Veloso - prosperou "a madrasta", em lugar de "a mulher" de Alexandre Nardoni, trocando-se, assim, também no registro do padrão de qualidade, uma formulação em bom português por outra pomposa, falseada e punitiva.

É que, em sua desenvoltura, "a companheira" ou "a segunda mulher do pai" exporiam demais a falência do casamento e da família a que chegamos, daí esse tipo de expressão, embora cada vez mais corriqueiro, incomodar até mesmo a representação da vida como ela é no jornalismo botânico, diriam alguns. É que "madrasta" já é um veredicto, uma condenação prévia, daí sua utilidade, diriam outros.

Tudo isso é razão sociológica e é verdade. Mas, na terrível história deste infanticídio, há mais estranhezas envolvendo palavras, e mais palavras feitas para nos deixar aturdidos, que só aquelas que a sociologia saberia explicar. Algumas são, visivelmente, da alçada da psicanálise. Como a coincidência entre os nomes da primeira e da segunda mulher do pai, que se chamam ambas Ana Carolina, e têm sobrenomes na mesma gama semântica - Oliveira e Jatobá -, ou entre o nome do pai de Ana Carolina Jatobá e de seu marido, que se chamam ambos Alexandre. Juntamente com Freud, poderíamos pôr isso na conta de uma psicopatologia da vida cotidiana.

Mas se estas recorrências dos significantes e significados já intrigam, tanto quanto a maneira subitamente protocolar com que passamos da boa tia à bruxa cruel, nada chega perto da vertigem de uma outra confusão onomástica que, desde o indiciamento de Alexandre Nardoni e sua segunda mulher, passa a rondar o caso Isabella. De fato, se Alexandre Nardoni, como nos afiançam a promotoria, a polícia e a imprensa, e acredita a opinião pública, pensando que sua filha estivesse morta, e agindo em cumplicidade com a mulher, que a teria começado a matar, a atirou do sexto andar de seu apartamento, para encobrir o assassinato, tomando o cuidado de precipitar o corpo sobre a grama, para não desfigurá-lo, e se foi em conseqüência da queda que a menina morreu, então, estaríamos diante de um assassino doloso e culposo ao mesmo tempo, voluntário e involuntário de uma só vez.

Doloso porque, nesse caso, Alexandre Nardoni teria cooperado com a mulher que intentou matar sua filha, assumido o seu intento, consentido com ele, a ponto de desfazer-se do corpo e buscar inculpar um terceiro, ou terceiros, e agindo com astúcia ou fraude, que são as duas palavras que todos os dicionários empregam para definir o "dolo". Culposo porque, acreditando que a filha já estivesse morta, como parece provar o fato de que não chamou para ela nenhum socorro, a atirou pela janela, e, sem querer, com as próprias mãos, a matou.

Se acaso supuséssemos um coro grego antiqüíssimo circulando em volta desta tragédia paulistana das imediações do Tucuruvi, onde fica o Edifício London, é isto que, no desempenho de um de seus principais papéis - deplorar o horror - esse coro trágico teria que fazer valer: sem querer, com as próprias mãos, a matou! E isso significaria entoar que o pai foi um joguete dos deuses!

Ainda que, em alguns autores, como Sófocles, os heróis trágicos se debatam contra a sina que os faz rumar inapelavelmente para um fim abjeto, e busquem escapar dela, o homem como joguete dos deuses é a própria condição da personagem de tragédia, a própria essência do trágico. Assim, neste infanticídio de pai para filha, que parece ensombrecer todas as palavras, mais que na sociologia e na psicanálise, estamos na literatura. Tudo se passa como se a vida imitasse a arte.

Na Antígona, que encerra o ciclo das tristíssimas histórias de Sófocles em torno da família de Édipo, a personagem que dá nome à peça é um desses heróis que quer escapar da sorte, tomar seu destino em mãos. Nos nossos exercícios escolares, só vamos até Édipo Rei. Mas Sófocles escreveu seis dramas, quatro deles perdidos, sobre essa gente do clã maldito dos Labdácias que está envolvida com o casamento de um filho-joguete-dos-deuses com a própria mãe, núpcias que rendem uma linhagem impura de príncipes e princesas, que vão, aos poucos, sendo expurgados de Tebas, para que a polis se limpe dessa abominação.

Bem menos conhecida, a segunda fase desse processo expiatório é Édipo em Colono, cujo título alude ao lugarejo ao lado de Atenas em que Édipo se exila e morre de dor. O último é Antígona, que trata da guerra fratricida entre os descendentes homens da casa de Édipo, rivais na disputa do trono, da morte dos dois príncipes, um pela mão do outro, e da luta da irmã para enterrar um dos irmãos, condenado a apodrecer sobre a face da terra, sem sepultura, segundo uma nova lei do reino, por ter atentado contra Tebas, quando o outro irmão governava.

Na última peça de Sófocles, Antígona ergue-se sozinha contra toda uma cidade para enterrar Polinice, morto em meio às escaramuças que cercam sua tentativa de tomar o poder, perdido para o irmão Etéocles. Quando os dois irmãos entredevoram-se e perecem, é Creonte, tio deles, que assume o governo e faz promulgar contra Polinice a lei do não-sepultamento. Desrespeitando a ordem, Antígona, que está prometida ao filho de Creonte, realiza o funeral do irmão. Ela é condenada à morte e se suicida, gesto imitado pelo noivo. É a dizimação dos Labdácias e o começo da desgraça de Creonte, prevista pelo cego adivinho Tirésias, que vem lhe dizer que errou ao manter o seu édito cruel.

Uma das dimensões fascinantes da peça é que ela se presta a discussões jurídicas, políticas e religiosas com as quais, até hoje, estamos envolvidos. Com 2.500 anos de antecedência, estão aí cifrados os embates entre o Estado e o sujeito próprios da vida republicana, embates que repercutem, então, as contradições inerentes à passagem de uma Grécia mítica a uma Grécia democrática e filosófica. Assim como é plena de dimensão psicológica. Pois estão dados aí também temas como a maldição da parentela, a presença da morte no cerne das relações entre pais e filhos, toda essa infelicidade de que a psicanálise, fazendo uma ponte entre Sófocles e Shakespeare, Édipo e Hamlet, tiraria um mundo.

São essas nuanças da psicologia fina ou da vida psíquica profunda que têm permitido a alguns tomar Creonte não como um déspota mas como aquele que, por sua vez, quer salvar uma cidade, expulsar a peste de seus domínios, impedindo que a filha de Édipo se case com seu filho, de modo a perpetuar a maldição. Nessa linha interpretativa, ele é também aquele que desmancha a absoluta confusão nomenclatural - o filho que é o esposo de sua mãe, o pai que é o irmão de seus filhos, e assim por diante, que o casamento edipiano desencadeou. E isso tem o interesse suplementar de nos permitir reinterpretar não apenas Antígona mas todo o ciclo de Édipo como uma tragédia da confusão dos nomes e dos papéis regulados pelos nomes, com tudo que esse desgoverno tem de atentatório à civilização.

Mais fascinante ainda é que isso pode ter a ver com a cordialidade. Tanto assim que, em Raízes do Brasil, Sergio Buarque de Holanda, pensador dos atropelos da nossa civilidade, nossa particular maneira de viver as relações entre o Estado e a família, fazendo de um a continuação do outro, vai tirar de Sófocles lições sobre o mundo brasileiro, em que todo mundo é tio.

Se for verdade que o pai de Isabella matou e não matou voluntariamente a filha, haveria um paradoxo, uma tragédia dessa ordem da desorganização estrutural no caso Isabella Nardoni. Não só porque, nesta triste rede de nomes e parentes confundidos, vemos a lógica enlouquecer, junto com a gramática. Mas porque, ao relegar à grama do jardim do Edifício London o corpo da filha, que acreditava morta, mas que ele mesmo iria matar, Alexandre Nardoni, que não chama o resgate, nem cuida, como pai, dos funerais, de algum modo abandona o cadáver e aflora a ignomínia do não-sepultamento, atentando contra outra regra civilizatória.

Seria o clamor das pessoas às portas das casas, delegacias e presídios que ouvimos hoje uma espécie de recondução das vozes de um coro grego trágico cantando o fatídico de nossa existência, que algumas famílias malfadadas têm na cidade a missão de relembrar?

Leda Tenório da Motta é professora no Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da PUC-SP, crítica literária e tradutora. Publicou, entre outros, Proust - A Violência Sutil do Riso (Perspectiva, 2007)

quarta-feira, 26 de março de 2008

Fotos enviadas

Alguém viu o link enviado pelo Jair?
Reconheci os sócios da Adigo Jair e o Selim... é de outra turma, não?

sexta-feira, 7 de março de 2008

Proposta de encontro

Recebi uns comentários off-line que propuseram um encontro, segundo dados abaixo:

Data: 20/março
Horário: a partir das 19:30
Local: All Black Irish Pub - na esquina das ruas Oscar Freire e Peixoto Gomide

All Black
Endereço: R. Oscar Freire, 163 - Jardins - São Paulo - SP
Telefone: (11) 3088-7990
Site Oficial: http://www.allblack.com.br
Email: admin@allblack.com.br

No aguardo de manifestações.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Criação do Blog & outros

Colegas da turma 71,
para apoiar nossas interações, resolvi criar este singelo blog e convidá-los a participar...
Sejam bem-vindos!

Acho que o primeiro grande assunto a tratar é uma proposta de encontro em SPaulo.
Que tal as proximidades da Avenida Paulista?
Que tal usar como desculpa a comemoração do San Patrick's Day em 17/março?
Que tal um encontro em data a combinar no Le Vin Bistro da Alameda Tietê, 184?

Espero que a gente consiga interagir também através deste 'meio' tecnológico.